O gênero sci-fi, ou melhor, o de ficção-científica, deve muito a figura do russo naturalizado norte-americano Isaac Asimov (1920-1992), que chegou aos EUA aos oito anos e ficaria conhecido pela posteridade por escrever e editar mais de 500 livros, dos mais diferentes gêneros e disciplinas conhecidas pelo homem. Tramas de mistério, policiais, histórias com detetives, livro didáticos, enciclopédias, inúmeros trabalhos científicos, textos autobiográficos e principalmente as mundialmente famosas obras de FC, muitas delas levada ao cinema, como O homem bicentenário e Eu, robô

 O seu mais importante trabalho no gênero que apresentou ao mundo obras cinematográficas como Guerras nas Estrelas, Blade Runner, Matrix entre outras, ganhou recentemente nova publicação após anos de espera. Pelo selo da editora Aleph, a trilogia da Fundação, um dos maiores clássicos do século XX retorna ao público brasileiro, premiada em 1966 com um Hugo especial como melhor série de ficção cientifica e fantasia de todos os tempos, superando obras como O Senhor dos anéis de J. R. R. Tolkien e John Carter de Marte, de W. R. Burroughs.

A série é uma seqüência de narrativas sci-fi escritas por Asimov entre 1941 e 1953, na revista Astounding de John Campbell , ao melhor estilo pulp fiction. O autor começou a publicar as histórias da série quando entrou na casa dos vinte anos, e a prosa é muito mais do que poderíamos esperar de um jovem precoce. A trilogia capta o melhor e o pior da ficção especulativa numa única narrativa arrebatadora, que mistura brilhantemente um pensamento criativo, repleto de novos conceitos e uma linguagem que aproxima as investigações científicas, como a robótica ou a genética de populações, dos leitores. Além disso, a metáfora está em muito de suas páginas, num diálogo bem adaptado que esboça conhecimentos sociológicos aos leitores.

Seu ponto de vista conceitual é tão brilhante, que dificilmente existe uma página neste trabalho que não desenvolva algumas perspectivas provocantes e excitantes sobre os assuntos humanos, as interações de grupo, individual, como uma análise de psicologia social, onde a tecnologia futura e os valores se digladiam no cenário. Nessa abordagem é de fundamental importância na série, o aspecto da Psicohistória, termo que Asimov criou para relacionar a ciência idealizada por um de seus personagens, Hari Seldon, nos finas do Primeiro Império Galáctico, aproximadamente daqui a uns 40 000 anos. Esta ciência é a sociologia levada ao extremo: as reações sociais são reduzidas a equações matemáticas baseadas na estatística.

No enredo da trilogia, Seldon usa essa ferramenta para fazer predições sobre as tendências históricas e sociais, algo que um charlatão qualificaria como predizer o futuro. A psicohistória lhe servirá para dar conta do futuro colapso do Império e os 30 000 anos de problemas posteriores até o surgimento de um Segundo Império. É assim que Seldon concede um plano para minimizar o efeito da queda do Império, estabelecendo duas Fundações nos extremos opostos da Galáxia para formar um núcleo do 2º Império muito mais cedo, em somente mil anos.

Asimov afirmou que foi inspirado no grande trabalho de Gibbon, O Declínio e a queda do Império Romano para compor sua obra-prima. Na verdade, há uma pequena comparação, Gibbon escreveu magistralmente uma obra baseada em fatos históricos, já Asimov foi mais audaz, era um rapaz mal saído da adolescência e construiu uma história futura que mede a queda e a ascensão de impérios num trabalho multi-volume, com mudanças constantes de cenário, personagens, conflitos, séculos… ambos foram zelosos e descritivos com seus trabalhos.

Também conhecida como o Ciclo de Trantor, os três volumes que compõem a série, Fundação (Foundation), Fundação e Império (Foundation and empire), ambos com tradução de Fábio Fernandes, e Segunda Fundação (Second Foundation), traduzido por Marcelo Barbão, possuem o vigor de uma epopéia, no entanto a narrativa traça a história da civilização humana há milhares de anos na frente de nossa era, num futuro onde a humanidade conquistou a Via-Láctea e formou um Império Intergaláctico, que, contudo havia posto tudo a perder.

O primeiro volume é formado por três contos (Os enciclopedistas, Os prefeitos, Os comerciantes e os príncipes mercadores), publicados a partir de 1941, e mais um conto que serve como prólogo da série, de 1949. Conceitua a Psicohistória, num relato basicamente histórico, onde trás o colapso do Império, apresenta o plano Seldon e seus autores, que posteriormente se converteram em mitos da nascente Fundação. Já o segundo volume, formado por contos maiores que os de Fundação. O General, publicado pela primeira vez na edição de abril de 1945 de Astounding Science Fiction sob o título “Dead Hand”, segue o mesmo estilo, mostra o choque da nova instituição galáctica e o Império em decadência, mas ainda poderoso. Sem dúvida, o estilo histórico começa a desaparecer na segunda parte, o Mulo, publicado pela primeira vez nas edições de novembro e dezembro de 1945 na mesma revista da primeira narrativa, onde a Fundação enfrenta os poderes de um estranho mutante chamado o Mulo. A narrativa histórica dá vez ao mistério, e os protagonistas agora se vêem na necessidade de resolver o caso e da segunda Fundação.  No último volume, publicado em 1953, há a descrição da nova organização, como uma rede de espionagem e uma ampla luta estratégica entre os vários segmentos da galáxia para controle da mesma numa ação dosada de intriga e emoção.

Vale ressaltar a ótima tradução desta edição, bem diferente da anterior, onde era possível perceber diversos erros de tradução no texto, muitas vezes empregando frases completamente ininteligíveis. Para quem goste ou não do gênero, a trilogia é o grande momento do trabalho de Asimov. Numa época em que a Internet e nem os computadores nem existiam, a própria tecnologia ainda estava a engatinhar, Asimov construiu e empregou diversos conceitos que atualmente são realidade, numa grandiosa saga cheia de reviravoltas fantásticas, ação, aventura e uma característica incrível da prosa de Asimov, a total impossibilidade de prever o próximo passo do livro. Muito recomendado a todos que gostem de uma clássica história de épocas futuras.

SERVIÇO

Box Trilogia da Fundação de Isaac Asimov

Fundação, 240 páginas; Fundação e Império, 248 páginas; Segunda fundação, 240 páginas

ISBN: 978-85-7657-069-1

Aleph, 2009

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Publicado: outubro 8, 2010 em Uncategorized

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